BIOGRAFIA ESCRITA POR D. OLGA CAPOVILLA

Minhas lembranças são a partir dos quatro anos de idade. Lembro-me de quatro crianças que vinham brincar comigo à noite, no quarto de dormir; eram duas meninas e dois meninos, mais ou menos do meu tamanho.

Aos sete anos, comecei a ter sonhos que me deixavam assustada e acordava chorando; recordo-me de que minha mãe vinha ficar comigo até que eu adormecesse novamente. Ela fazia uma oração e me dizia que aqueles meninos não viriam mais; mas, de quando em quando, eles voltavam e, às vezes, vinham com a aparência de bruxas e de lobisomens.

Minha mãe dizia para me deitar virada para o lado, porque aquelas bruxas eram pisadeiras e, se eu deitasse de costas na cama, elas viriam me pisar, pois pisavam em qualquer pessoa que se deitasse de costas. Eu dormia no quarto com minhas outras irmãs e notei que todas elas dormiam viradas para o lado e que nenhuma delas via bruxas.

Quando completei oito anos, no dia de Natal, eu não acordei e passei o dia todo dormindo - minha mãe e meu pai não sabiam o que fazer para me acordar. Nesse dia, antes das 18 h, apareceu um homem que pediu pão e meus pais lhe deram de comer. Ele, porém, não comeu o pão e perguntou ao meu pai porque ele estava triste. Meu pai contou o que tinha acontecido comigo, ou seja, qque eu estava dormindo desde a véspera de Natal.

Ele pediu então que o deixassem me ver. Ao adentrar o quarto, fez uma pequena oração e disse aos meus pais: “Sua filha é médium e está dormindo em um outro plano”. Ele fez outras orações e disse: “Eu fechei este canal, mas só até os 16 anos, pois aí ela terá que iniciar sua missão aqui na Terra, disso ela não poderá escapar!”. Ele ainda disse, antes de partir: “Acabou hoje a doença e a prosa!”. Assim falando, deixou nossa casa e eu, como por encanto, acordei do sono profundo.

Depois daquele dia de Natal, meus pais nunca me deixavam sozinha, com medo de que eu tivesse outra crise de ausência; porém, a partir daí, eu não vi mais as crianças e nem as bruxas. No meu quarto, por vezes, me deparava com santos que eu via nas igrejas, como por exemplo: Santo Antônio, São José, Maria Mãe de Jesus, Santa Luzia, Santa Terezinha e outros. Deles, porém, eu não tinha medo; eles apareciam e desapareciam - apenas me olhavam, me benziam, oravam e se despediam.

Quando nos mudamos para Vinhedo, primeiro fomos morar em um sítio na divisa entre Valinhos e Vinhedo. Foi aí que, aos 15 anos, eu conheci meu futuro marido, pois o sítio deles era vizinho do sítio em que nós morávamos. Ele passou a vir sempre conversar comigo, o que não agradou ao meu pai, pois eu era a terceira filha e havia as outras duas, de 19 e 17 anos - naquela época, as mais velhas tinham que namorar e casar primeiro. Mesmo assim, meu futuro marido pediu ao meu pai para me namorar, tendo recebido como resposta que isso só seria possível quando eu completasse 20 anos, e depois que as outras irmãs já estivessem encaminhadas.

Depois de um tempo, nós fomos morar na Vila Storani e começamos a trabalhar todos na fábrica dos Storani. O Sr. Paulo Storani foi quem nos contratou - eu e minhas irmãs Joana, Elza e Maria Aparecida.

Meu irmão José foi trabalhar na cerâmica que fabricava telhas, ele era o quinto filho. Minha irmã Mercedes, a sexta filha, tinha apenas 11 anos e não trabalhava ainda.

Desde a época da última ausência, meus pais não me deixavam sozinha e, mesmo namorando meu futuro marido, eu não podia sair a sós com ele, nem para ir ao cinema, nem à noite; minha irmã Mercedes ou meu irmão José nos acompanhavam. Porém, nunca mais senti nada e nem tive mais ausências.

Meu pai sempre me dizia: “Filha, você sabe que um dia terá que procurar a Doutrina Espírita, mas procure uma doutrina pura”.

Casei-me aos 18 anos e fui muito feliz no casamento, mas após o nascimento do meu segundo filho, que é uma menina, voltei as ter as crises de ausência.

Eu estava sempre doente, com anemia profunda, e tinha visões de animais grotescos que queriam me pisotear, fazendo-me chorar de medo.

Eu não gosto e nem nunca gostei de falar dos espíritos que via, pois eu via coisas tristes, medonhas, e chorava muito, sempre escondida. Só contei isso para o meu marido depois de algum tempo de casados, quando tive a primeira crise de ausência e a avó dele me disse o que tinha acontecido. Eu não sabia o que dizer, pois nem mesmo eu sabia direito o que se passava comigo, o que só aconteceria anos mais tarde, ao estudar a Doutrina Espírita.

Quando meu filho Luiz Antonio Capovilla estava com nove anos e minha filha Terezinha Maria Capovilla com seis anos, às 8 h, ouvi um barulho de passos e vi um rapaz entrar no quarto, vestido com batina de padre - roupa preta com um coração vermelho bordado. Ele me olhou e falou: “Daqui a um ano você terá um filho, coloque o meu nome que é Gabrielle”. Contei ao meu marido e depois de algum tempo comecei a passar mal. Fomos ao médico, que, ao me examinar, disse que eu estava grávida de um menino. Fiquei meio incrédula, mas o médico reafirmou e falou que o menino nasceria no dia 20 de maio. Realmente meu filho acabou nascendo no dia 21 de maio, às 8h.

Meu marido me perguntou se eu gostaria de colocar o nome que o padre havia me sugerido. Eu, na verdade, tinha até esquecido o episódio, mas como ele lembrou, colocamos o nome na criança de Celso Gabriel. Depois de nove anos, veio por fim minha filha Sheila.

Aos 40 anos de idade, comecei a ficar doente com tantas visões; adoeci e tive uma anemia gravíssima com mais de 16 mil glóbulos brancos. Eu só chorava e não tinha ânimo; via todos os dias minha mãe vir à minha casa trazendo mulheres que choravam. Eu pedia para ela ficar longe de mim, porque eu tinha medo daquelas almas que vinham com ela; então minha mãe me pedia para orar pelas almas e eu orava o Pai Nosso. Elas iam embora e eu deixava de chorar.

Eu via também um menino de uns quatro a seis anos que brincava na sala de casa, chutando bola, jogando as almofadas do sofá, brincando até cansar e depois ia embora. Esse menino tinha cabelos loiros, olhos azuis e era muito bonito. Eu também tinha muitas visões de senhoras, todas vestidas de preto.

Também sempre me lembrava das palavras do meu pai dizendo que um dia teria que procurar a Doutrina Espírita.

No início, comecei a ter crises de ausência na igreja e, quando tinha sensações estranhas, sentia-me como se estivesse no ar, suspensa, mas ao mesmo tempo, via que meu corpo estava no banco da Igreja Matriz de Sant’Ana.

Isso começou a acontecer com frequência e o cônego, Sr. Favorino Carlos Marrone, pediu que eu me tratasse e só quando estivesse melhor voltasse a frequentar a igreja. Antes que isso ocorresse, eu comecei a ver os espíritos na igreja, na hora da comunhão; também via meu pai e, certa vez, minha mãe também veio e sentou-se ao meu lado. Ela me falou: ”Sua vida é uma história que ficará para ensinar aqueles que a você vierem buscar ajuda, não tenha medo, pense em Jesus, em Deus e em Maria; peça a ajuda d’Eles, pois Eles não lhe faltarão”.

Como não podia mais ir à igreja, pelo menos até que melhorasse, comecei a procurar centros espíritas; primeiro foi a Federação Espírita de São Paulo, depois, o Centro Allan Kardec, a Casa de Jesus, a Morada Espírita, o Centro Bezerra de Menezes e outros, todos em Campinas.

Nesses Centros eu não fazia tratamento, apenas frequentava uma ou duas vezes, pois ainda não me sentia bem. Naqueles onde me sentia bem, todos me diziam que eu precisava estudar a Doutrina Espírita porque minha missão era a de fundar um centro espírita. Também diziam que, se eu não seguisse essa missão aqui na terra, viveria doente, pois esse era o meu chamado.

Também via muitas coisas estranhas, não em casa, mas no Centro, tão logo iniciei minha caminhada na Doutrina Espírita. As visões incluíam cavalos, bois, macacos, cachorros e cobras e todos tinham cabeças de seres humanos, vestidos de palhaços sujos e maltrapilhos.

Sempre procurei esconder isso da minha família, nunca contei aos vizinhos, nem para ninguém mais, as visões que tinha. Infelizmente, passaram a me considerar orgulhosa, pois não gostava de ficar de conversa, mas mal sabiam eles o quanto eu penava por isso. Tudo continuava na mesma, até que um dia, um de meus cunhados, o Nivaldo, marido de minha irmã Mercedes, veio até minha casa e me disse: “Achei um centro espírita de que você vai gostar, é em Campinas, na Av. da Saudade, 136, e chama-se Centro Espírita Padre Eustáquio.
Após ele falar com meu marido, lá fomos, todos da família. Depois de seis meses, só eu continuava a frequentar; todos os outros deixaram de ir.

Quando entrei nesse Centro, observei na parede o retrato de um padre com roupa branca, e quando eu olhei, ele sorriu para mim. Uma Sra. muito amiga me disse: “Ele sorriu para você”. Pensei que havia gostado do padre, me senti bem e entendi que ali deveria ser bom, pois tinha algo que me remetia à igreja, e na igreja eu nunca ouvira os padres falarem coisas estranhas. Eles só nos ensinavam o bem e, portanto, esse Centro deveria ser um lugar bom e do bem. Resolvi que ficaria ali.

Apesar de estar decidida a frequentar esse Centro, quando me lembrava do que os meus pais me ensinaram e de que me encaminharam para a Igreja católica, eu sentia uma dor no coração, que ficava apertado. Aí eu chorava, pois pensava que os estava traindo, assim como a Igreja e o Papa. Na igreja, havia as imagens dos santos que eu tanto amava e respeitava, e lá eu aprendi só coisas boas: a ajudar as famílias; com os vicentinos eu distribuía roupas e tudo o mais que os mais pobres necessitavam, como medicamentos, remédios etc. Nós visitávamos os doentes e, se necessário, os encaminhávamos para os hospitais; essa era a minha tarefa, ou seja, ajudar nas visitas aos doentes. Eu fazia parte da Liga do Sagrado Coração de Jesus, tendo sido sempre católica praticante e muito atuante junto às necessidades de nossos irmãos.

Quando eu ouvia nos centros espíritas por onde passei que eu tinha a missão de fundar um centro espírita, ficava entristecida, pois tinha muito medo dos espíritos. Até então, nenhum espírito tinha se comunicado comigo, me envolvido, eu não sabia nem quem era o meu anjo guardião, muito menos o meu protetor.

Frequentando a Instituição Espírita Padre Eustáquio, apesar de tudo, eu me sentia muito bem.

Um desses dias, o Sr. João Rosa me chamou e me disse para chegar um pouco mais cedo no sábado seguinte, à tarde, pois queria conversar comigo. No dia marcado, cheguei ao centro por volta de 13h30 - o Sr. João já lá se encontrava e me apresentou um casal jovem ainda, dizendo que o rapaz era vidente e que ele, João, gostaria que eu conversasse com ele. Fiquei sozinha com o casal, no gabinete do Sr. João. O rapaz me disse que eu era médium, ao que eu respondi que eu não era, porque nunca tinha sentido envolvimento algum. Ele então me perguntou se eu dava passe em casa - respondi que nunca tinha feito isso, mas o rapaz disse: “Chame como quiser, mas a senhora benze (se preferir) em casa, e isso é a mesma coisa”. Eu lhe disse então que quem havia me ensinado a benzer fora minha avó.

Minha avó certo dia me disse que, quando as crianças estivessem muito choronas, eu deveria benzê-las e acreditar que elas melhorariam. Ela disse que iria me ensinar - disse também que às vezes as crianças choram porque o quebranto dá um mal-estar muito grande, com dores de cabeça e tal. Dessa forma, ela me ensinou e eu passei a fazer isso, sempre com bons resultados.

Expliquei para o rapaz como minha avó havia me ensinado: ”Faça o sinal da cruz, elevando o pensamento até Deus, Jesus, Maria, ou o teu santo de devoção e diga o seguinte: “Deus te fez, tua mãe te gerou, Deus tira todo mal que no teu corpo entrou””. Ela disse para repetir estas palavras três vezes, e também para deixar a criança dormir e não se preocupar, pois ela ficaria bem; depois deveria fazer uma oração e agradecer a Deus. Ao final, ela falou que me daria a oração de São Paulo apóstolo, dizendo que era para orar sempre, pois ele iria me proteger. Foi assim que comecei a benzer, com fé no apóstolo Paulo.

Dito isso, nós conversamos mais um pouco e eu fui encaminhada para falar novamente com o Sr. João.

Inicialmente precisei fazer um tratamento de dez semanas na desobsessão, depois mais dez semanas normais; concluído esse período, foi pedido para que eu estudasse a Doutrina e os livros de Allan Kardec. Posteriormente, deveria fazer o curso de passes. Porém, quando eu melhorava, abandonava tudo. Após fazer isso várias vezes, o Sr. João Rosa, que era o diretor do Centro, me disse que ou eu seguia minha missão ou deveria parar de ali voltar para buscar ajuda. Só a partir daí é que comecei a estudar.

Quando terminávamos os tratamentos espirituais, o Sr. João nos chamava e dizia para voltarmos sempre, pedindo que estudássemos a Doutrina dos Espíritos para que estes passassem também a nos conhecer. Dessa forma, alguém ainda encarnado poderia auxiliar outro que estivesse desencarnado e vice-versa, pois assim seria mais fácil ajudar, por se conhecerem melhor uns aos outros através das histórias de provações, derrotas e vitórias.

Eu tinha mania de rezar o terço todos dias pela manhã e troquei as orações do terço pela leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo. Os espíritos vinham e se sentavam no chão formando um círculo e, um de cada vez, me contavam como desencarnaram e também comentavam como a religião dá aos espíritos necessitados uma grande força e enfim, que o conhecimento da Doutrina dos Espíritos lhes fazia muito bem. Confesso que não era fácil eu, que ainda ignorava tantas coisas acerca dessa doutrina, fazer uma oração para ajudá-los, mesmo quando eles estavam nos fazendo mal.

Sei que muitos fazem o mal por desconhecer as Leis de Deus tanto quanto nós já conhecemos, assim como nós ainda fazemos o mal também, porque também conhecemos tão pouco... mesmo assim não foi fácil.

Em 1980, comecei a estudar sozinha com o Sr. João os livros dos cursos, segundo ele, para recuperar o tempo perdido. Em três anos estudei tudo, sempre às quartas-feiras, das 14:00 às 16:00 h e sem que meu marido soubesse, pois eu não falava mais sobre espiritismo. Algum tempo depois, minha filha Ana Sheila começou a acordar à noite, chorando e dizendo que não conseguia mais voltar ao corpo para acordar - ela ficava com medo de morrer.

Essa foi uma oportunidade para falar com meu marido; ele não gostou, mas também não me proibiu de levá-la ao Centro. Ao voltar para casa, ela disse ao meu marido: “Papai, acho que não vou mais à missa, gostei do velhinho que me benzeu e quero ir lá com a mamãe”. Meu marido apenas ouviu e não disse nada.

Quando comecei a trabalhar realmente no Centro Padre Eustáquio, o Sr. João Rosa me comunicou que eu iria conhecer o meu protetor. Fiquei com medo do espírito que iria se apresentar, mas o Sr. João me acalmou, dizendo ser necessário respeitar os espíritos, pois eles são como nós e procuram o que lhes faz bem. De outro lado, os espíritos desencarnados que já estão cansados de sofrer procuram pela luz dos médiuns que já se reconhecem como espíritos do bem. Ele me disse ainda que a maioria dos espíritos que nos procuram, causando-nos mal-estar, veem em nós, médiuns, uma luz que faz com que se sintam bem e assim, mesmo sem que eles saibam, acabam por nos prejudicar de alguma maneira. Também por esse motivo é que as Casas Espíritas propõem aos seus frequentadores que estudem para saber como melhor atender.

Fui apresentada ao meu Mentor e ele me disse que era um espírito que seria meu protetor, porém, ele precisava me tocar para que eu pudesse saber como seria o contato. Fiquei com medo e não quis, então o Sr. João, com toda calma, me explicou que se ele não me tocasse, não haveria envolvimento, e se fazia necessário que isso acontecesse. O Mentor então tocou em meu braço e eu tive uma sensação de alegria interior. Digo isso porque não encontro palavras para descrever a sensação. Ele me tocou mais duas vezes e me perguntou se eu aceitava - eu respondi que sim, mas só se fosse sempre daquela maneira.

Quando recebi o Mentor, ele me perguntou se eu tinha um Santo de minha devoção e eu respondi que gostava de todos os Santos, mas ele insistiu em saber se não tinha algum de que eu gostasse da história de vida. Eu disse então que adorava ler as passagens da Bíblia que falavam sobre o Apóstolo Paulo, que é chamado de Apóstolo dos Gentios. Ele então me disse que, daquele dia em diante, eu deveria chamá-lo de Irmão Paulo.

Observem que ele me disse para chamá-lo de Irmão Paulo, e não afirmou chamar-se Paulo de Tarso. Os bons espíritos não gostam de se vangloriar, pois dizem que apenas um espírito pode tudo e este é o maior, pois é Jesus, filho de Deus, que veio ao mundo para salvar a humanidade.

Deus é nossa maior luz, e só Deus nos ama mais que todos, porque somos filhos da luz d’Ele, e Ele nos criou luz, pois somos filhos dele, portanto, somos partículas da luz d’Ele.

Assim começamos a trabalhar juntos, eu e o Irmão Paulo.

A primeira vez que eu recebi os espíritos foi assim: um rapaz entrou trazendo uma Sra. e eu vi com ela um cavalo muito bonito - ele relinchava e eu tremia de medo, mas no mesmo instante me lembrei das palavras da minha mãe, dizendo para orar sempre que tivesse algo que me assustasse, pois o socorro viria até mim. Comecei então a orar e o cavalo foi diminuindo até ficar do tamanho de um ratinho e desaparecer. Eu perguntei para a Sra. que se sentou ao meu lado se ela estava bem e ela me respondeu que no momento em que ela havia adentrado a sala, havia melhorado como que por encanto. Eu dei graças a Deus, pois estava iniciando o primeiro dia de trabalho naquela Casa de paz e harmonia.

Em abril de 1987, o Sr. João Rosa fechou o Centro e mudou-se para o outro lado da cidade. Eu não tinha mais como ir até lá, pois não tinha condução própria e, se fosse de ônibus, iria perder o último que saía para Vinhedo, chegando em casa após a meia-noite. Quando falei com o Sr. João, ele me disse para não parar e ir para outro centro mais próximo.

As pessoas começaram a me dizer: “Você se tornou espírita, cruz credo!”, mas sempre respeitei a decisão de cada um que vinha me dizer o que quisesse.

Tampouco expus a Doutrina Espírita e nunca tentei me impor, dizendo que o espiritismo era a melhor religião. Também nunca disse que as outras religiões, fossem quais fossem, eram erradas ou mesmo atrasadas para o tempo atual. Sempre acreditei que todas as religiões são boas, desde que levem ao caminho que nos conduz a Deus.

Em 10 de Abril de 1987, comecei a dar passes em casa nas pessoas conhecidas, mas em três meses começaram a vir tantas pessoas que eu precisei parar, pois não dava para atender tanta gente.

Nesse meio tempo, um anjo bom me enviou alguém; era um domingo à tarde, e uma amiga me procurou para tomar passe, pois estava passando mal. Eu perguntei sobre o Centro da D. Mercedes Capelato e ela me disse que apesar de ter fechado o Centro, D. Mercedes continuava assistindo às famílias que tinham doentes, às terças-feiras. Minha amiga me deu o telefone; liguei na segunda-feira e D. Mercedes me confirmou que estaria lá no dia seguinte, pedindo que fosse encontrá-la às 14 h para conversarmos.

Convidei uma senhora amiga e às 13 h já estávamos lá. Ela me recebeu na porta e me deu a chave, dizendo que havia fechado o Centro, mas que eu podia usar o local para trabalhar, somente pedindo para que eu não deixasse que as pessoas se desviassem dos estudos das obras de Allan Kardec e, principalmente, do Evangelho de Jesus.

Iniciei os trabalhos naquele mesmo dia, fazendo, eu e minha amiga, a leitura do Evangelho Segundo Espiritismo; assim, nós duas, todas as terças-feiras estavámos lá às 13h.

Depois da preleção do Evangelho e das vibrações, encerrávamos as orações e começávamos o atendimento fraterno, dando orientações a todos que nos procuravam.

As pessoas começaram a trazer os filhos, as famílias se ofereceram para ajudar, e, no ano seguinte, nós resolvemos estudar com as apostilas que eu tinha em casa.

Quando ainda trabalhava neste local, fatos curiosos aconteceram, como por exemplo: quando chovia muito forte, enquanto tomava banho e me arrumava, eu pensava como iria ao Centro, pois só tinha a chave e não tinha condução para ir. Chegada a hora de partir, porém, a chuva, como que por encanto, parava. Meu marido ficava preocupado e dizia para eu não ir, pois podia adoecer, mas nada acontecia. E mais incrível ainda, quando eu entrava no Centro, a chuva voltava com toda a força.

Uma vez, saindo do Centro, armou-se um temporal muito feio e eu comecei a orar, pois temia ser pega no caminho; como por encanto, apesar da chuva torrencial que caía e do vento, notei que eu não me molhava - isso perdurou até chegar em casa, totalmente seca.

O Centro era pequeno, mas estava sempre cheio; todos gostavam de ir com suas crianças, suas famílias, amigos etc.

Em 1989, a Sra. Mercedes, vendo que o Centro era pequeno e não comportava mais tanta gente, me disse: “Olga, o seu grupo cresceu muito, é preciso fundar o seu Centro”. A partir daí, fizemos listas para pedir ajuda à Prefeitura, para doação de um terreno.

Fundamos o Centro Espírita Paulo de Tarso em 21 de julho de 1990 e logo ganhamos o terreno, iniciando nesse mesmo ano a campanha para angariar fundos para a construção. Com um pouquinho que cada membro da família de Paulo de Tarso deu e com os nossos primeiros eventos, pudemos iniciar esta maravilhosa obra, que é a nossa Casa de Amor e Luz.

Depois que meu pai faleceu, todos os dias eu sonhava com ele batendo na porta, entrando sorrindo e ali conversando comigo. Um dia ele me falou: “Eu vim te buscar para te levar em um lugar que você precisa ver”. Quando saímos na rua, vi que estavam ali me esperando todas as minhas irmãs com suas famílias, e seguimos a pé, saindo da cidade e pegando uma estrada. Todos continuavam juntos e, com meu pai seguindo à frente e eu ao lado dele, passamos por caminhos difíceis, alguns com mato com espinhos, outros, com pedras onde escorregávamos e caíamos. Cada vez que eu olhava para trás, a quantidade de pessoas ia diminuindo; de repente chegamos num pântano e nossos pés afundaram na lama, mas não ficamos sujos e nem molhados. Logo a seguir, nos deparamos com uma montanha tão inclinada que, para subir, nos agarrávamos nas moitas de capim. Quando chegamos no topo da montanha, nos deparamos com uma construção muito grande e, ao olharmos para trás, não havia mais ninguém, apenas eu e meu pai. A porta estava aberta e meu pai procurou a recepcionista, dizendo alguma coisa que eu não ouvi e nem entendi. Meu pai olhou para mim e falou chorando: “Filha, eu não pude te colocar num colégio, mas hoje eu te trouxe para a Faculdade de Jesus Cristo e esta é a escola que você deve seguir; a hora já se faz”.

Desse dia em diante, meu pai não apareceu mais nos meus sonhos, só muito tempo depois é que ele voltou a aparecer, quando eu estava com algum problema ou com alguma dificuldade da vida.

Um dia eu estava numa reunião mediúnica, já no início do meu trabalho no CEPT, quando vi uma mesa de cirurgia e uma jovem loira que estava para dar à luz. Eu vi a equipe médica e do lado direito, meu pai segurava a mão dessa jovem. Observei que nasceu uma menina e meu pai me olhou sorrindo e pronunciando o nome Nátali. Passado algum tempo, uma de minhas irmãs veio até minha casa e contou que a filha dela Priscila, havia dado à luz a uma menina. Minha irmã estava toda envergonhada, pois minha sobrinha não era casada. Acabei por perguntar o nome da menina e para minha surpresa ela disse: “É Nátali, em homenagem ao nosso pai” (o nome do meu pai no passaporte italiano era Nátali e aqui no Brasil transformaram em Natal). Contei o que havia ocorrido no CEPT e minha irmã não gostou, mas minha sobrinha ficou muito emocionada e chorou, dizendo que sabia que o avô estava lá ao lado dela quando ela precisou.

Na nossa família, em cada casa tem uma pessoa simpática ao espiritismo, mas as demais não incentivam. Conversei com todos os meus filhos: Luiz Antônio respeita, mas tem medo; a Terezinha Maria gosta, mas meu genro não permite que ela frequente; no caso de meu filho Celso Gabriel, a sogra não concorda e acaba influenciando minha nora. Assim, só a Ana Sheila começou a me acompanhar desde o primeiro local, o Centro Padre Eustáquio em Campinas. Ela nunca mais deixou de ir e minha neta Gabriela, sua filha, sempre frequentou, mesmo antes de nascer - ela adorava participar das aulas da evangelização e também fazer o Evangelho no Lar todas as semanas.

As pessoas sequer imaginam o que acontece no plano espiritual enquanto estão sendo atendidas do lado de cá. Os médiuns que têm o privilégio de ver, sentem-se de certa forma alimentados por essas visões. O que vemos nos trabalhos de desobsessão é bem diferente do que se vê nas orientações, na fluidoterapia, nas preleções e nas tarefas do cotidiano, que nos envolvem em seus eflúvios de paz e de luz.

Nas reuniões mediúnicas, é tão bom ver os espíritos se entregarem e se libertarem de suas aflições e de seus sofrimentos, mesmo quando dizemos que eles precisam voltar ou que devem continuar no Centro fazendo tratamento diferenciado, pois só quando os encarnados dormem é possível realizar alguns tratamentos, em geral relacionados a reajustes com familiares.

Por esses e outros motivos é que nós temos que respeitar a Casa do Pai com o nosso silêncio.

Nas igrejas, sejam quais forem suas crenças, a gente só recebe a graça desejada quando acredita no trabalho sério, feito com respeito; isso vale para quem vem buscar alguma melhora e também para quem é trabalhador da Vinha do Senhor.

Jamais esqueço de quem me auxiliou no início deste caminho, e também não hei de me esquecer dos que vieram depois, pois cada qual chegou ou irá chegar, na sua hora certa.

"Nosso pai, que é Deus, está sempre à nossa espera; pode demorar, mas um dia chega a nossa vez. Jesus, filho de Deus que derramou seu sangue por nós, continua iluminando nossas existências com a luz Maior que está n’Ele, para que ninguém fique sem essa luz, porque com Deus e Jesus não há trevas.

A luz se fez para todos os confins da terra e da humanidade; estamos todos a caminho da luz e não há trevas que resistam à sua claridade e também não há quem não dobre os joelhos em terra para que toda a humanidade se salve." (Mensagem do Irmão Paulo)

“Meu abraço a todos os que comigo participaram para que esta luz iluminasse as nossas consciências, para que esta Casa de Oração a Deus fosse uma fonte de luz a se derramar para todos os que a ela viessem em busca do Bem Maior que é a paz da consciência tranquila, a luz a iluminar os nossos caminhos.

Deixemos em paz aqueles que não comungam com os nossos pensamentos e as nossas palavras de fé e de entendimento da luz que nos fez aceitar a Sombra da luz, porque esta sombra que esfria a fé que nos levaria à salvação, esta mesma sombra um dia vai virar luz, porque a luz vence todos em todos os tempos.

Luz é força, é energia que nos movimenta na direção d’Aquele que fez a luz, mas permitiu que a sombra viesse abrandar o calor, porque a sombra um dia também se tornará luz, e todos serão felizes.” (Mensagem do espírito Roberto Poterucha).

Aqui também fica o meu abraço para aquele que fez com que o destino se realizasse: o sonho de fundar um centro espírita, um sonho de alguém que jamais imaginou que um dia pudesse ser essa fundadora.
Meu sincero agradecimento ao Sr. Roberto Luiz Poterucha e família.

Muito obrigada às famílias de:
- Cecília Vioti Sterzeck
- Wilson Monteiro e esposa
- Maria Rita de Carvalho Mazzante
- Alice Bartocce e filhas
- Rosalina Miatelo e filhas
- Clélia e Cleber Pereira da Silva
- Adolfo e Mercedes Capellato
- Olga Viaro Capovilla, filha, neta e familiares
- Rui Sartini e família
- Alderedo de Carvalho Olímpio
- José de Alencar e esposa
- João Barbosa e esposa
- Patrícia Belizário Mubachi
- Silvana da Silva
- Mauro Ferreira e esposa
- Catarina Cortopassi Bordini e esposo
- Áureo Tadeu Pereira Melo e esposa
- Cláudio Antônio Cunha Mattos e esposa
- Aguenelo Martins Ferreira
- Marco Antônio Manica e esposa  


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